quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Paixão

Paixão
Escondendo o rosto com a palma da mão e deixando escapar pelas frestas dos dedos, um olhar brilhante acinzentado, combinando com o rosto queimado do sol, num doce sorriso infantil de homem apaixonado. Nas costas, um saco pesado de cacos de vidro, que no final do dia ele escondia num buraco do quintal: era o “tesouro” que Paixão colhia pelos caminhos, igual àquele enorme diamante de José Arcadio Buendía da descoberta do bloco de gelo. O tesouro era o presente para sua princesa que dançava para ele lá em cima do Cabugi, linda e vestida de sol! Ele afirmava que por isso ela brilhava tanto que o deixava encandeado. Quando escurecia, à noitinha, a princesa vinha repousar dentro do bolso de sua camisa velhinha e estragada pelo tempo, mas, bem perto do coração.
Ele embalava a princesa com um canto triste e melodioso:” Venho da serra pelada carregando a minha dor, trouxe para a minha princesa muito ouro e muito amor.”
A cantiga ia ficando cada vez mais lenta, até os dois adormecerem. Às vezes eles dormiam ali mesmo no chão do alpendre da casa velha da fazenda. Com a chegada do sol, Paixão acordava e recomeçava a sua jornada diária em busca do ouro para sua princesa encantada.

Um comentário:

  1. Passando aqui para prestigiar seu ótimo blog! Parabéns! Beijos! Voltarei sempre e divulgarei essas ternas paragens...

    ResponderExcluir