domingo, 4 de setembro de 2011

O doce de jaca

O doce de jaca

O ideal do casamento é o sonho que tudo dê certo, onde na verdade seja certo o amor e seja possível a felicidade. Não seria um doce de jaca que iria denegrir este sonho. Era uma jaca, como tantas outras, mas, presente de um neo-marido, pedindo carinhosamente para fazer um doce, então a coisa muda. Sorri compreensiva e fiz o possível para garantir que o faria sim. Um dado momento pensei que seria mais prudente esquecer a jaca e sair com o destino certo de comprar um doce em lata, já prontinho, feita com a perfeição da marca “peixe”  ou “cica”. Depois o coloquei num depósito bonito, parecendo  cristal, presente de casamento de uma tia. O doce surpreendeu: “muito melhor do que o doce da minha mãe, que se diz mestra em fazer doce!”. Quando não se dá conta da coisa, o melhor é ficar em silêncio. Mas os elogios ao doce chegaram aos ouvidos da minha sogra. E foi aí que a coisa desencadeou...
Dias depois, chega Chiquinha, criada da casa desde meninota: - “minha madrinha quer falar com a senhora agora!” Saí de imediato e quando cheguei, encontrei uma “cerimônia organizada”: uma panela de barro, as criadas em prontidão e a sogra! Ela, com a testa franzida e um olhar de descrença, usava um avental branco arrematado com renda de bilro,  uma das mãos na cintura e a outra segurando um facão, e mostrou-me uma enorme jaca ali em cima da mesa, me aguardando para preparar o doce.
Fiz o possível para manter a calma. Cortei e arrumei os gomos na panela, coloquei água e açúcar. Logo começou a ferver e espumar. Para aliviar a espuma, ia colocando mais água. “E os caroços?” Ai meu Deus! Esqueci que jaca tem caroço! Queimando as mãos, numa sofreguidão  desesperada, tirei um por um dos caroços. Quando ouvi um verdadeiro grito de guerra :“Menina, você já fez doce de jaca na sua vida?” E não me dando oportunidade de explicar aquela confusão, que às vezes os infortúnios têm suas vantagens.
Quando Berilo chegou, foi pior ainda: “– Sua mulher sabe lá fazer doce! Ela lhe enganou!” Ele olhou pra ela, coçou a cabeça, e com ar gaiato respondeu: “- Bom basta!” . Por um instante Dr.Rômulo foi chegando e deu um sentido novo à questão, me premiando com esse gesto de ternura: “- Todas as mulheres deveriam aprender a fazer doce com Maria Emilia”.

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